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Defensora Autora – Defensora lança livro memorial para quem acredita num mundo melhor (e luta por ele)

Defensora Autora – Defensora lança livro memorial para quem acredita num mundo melhor (e luta por ele)

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Nos 12 anos nos quais atua como defensora pública no Ceará, Emanuela Vasconcelos Leite já foi atravessada por muitas histórias. Pai, mãe, filho, irmão, marido, mulher, todo tipo de parentesco de pessoas em alguma situação de vulnerabilidade em demandas que diariamente chegam aos guichês da Defensoria Pública, em Santana do Acaraú e em Sobral, onde hoje atua e é supervisora. Relatos que ela colecionou na intimidade durante todo esse tempo e agora levam-na a estrear como escritora.

Em “Laços e nós: crônicas de uma defensora”, Emanuela resgata episódios da trajetória profissional que a marcaram e deixaram lições. São 21 textos em crônica, um dos mais tradicionais gêneros literários. “Como a gente trabalha com vulnerabilidades, é inevitável entrar num processo de sofrimento pelas injustiças, pela desigualdade social. A vida se repete diante de nós. Isso faz com que a gente crie identificações e ajuda a perceber que as situações nos afetam também, porque cada pessoa que nos procura vai com a emoção e uma bagagem cultural próprias dela”, pontua.

Ela classifica a obra como “algo que tem muito de mim e da poesia que vejo na vida”. Para Emanuela, é possível enxergar (e não apenas ver) poesia na dor. Dela e do outro. “A dor é um processo de transformação. Só depende do modo como ela é acolhida e tratada”, ensina, e lembra de si mesma no início da carreira, uma defensora idealista. “Escrever sobre isso tornou tudo mais leve. E eu, enquanto defensora, preciso estar empática para atuar. Contudo, não posso me imobilizar pela dor. O processo de escrita foi libertador. Me tornou uma pessoa que se deixa impactar e transforma a empatia em energia atuante”, narra.

Os primeiros escritos, ela recorda, não foram compartilhados. Ficaram guardados na gaveta e nos afetos. Até algumas palavras surgirem em redes sociais e ressoarem noutras pessoas. “Teve uma recepção muito boa e muita gente perguntava quando eu iria juntar todos aqueles relatos num livro. Decidi, então, reunir para eu não perder essas histórias ou deixar pulverizadas. Mas quando parei pra contar vi que era pouco para um projeto como esse”, revela a defensora.

Um caderninho de anotações, companheiro das mediações, mudou o rumo de tudo. E recortes de falas anotadas durante audiências foram o princípio de narrativas. “Parei pra refletir sobre essas falas. Sobre o que eu disse e sobre o que eu não disse naquela mediação. Se eu poderia ter feito melhor ou não. Durante a pandemia, após mostrar os escritos a uma aluna e do pessoal da editora [SertãoCult], sentei e fui avaliar. Me dei conta de quantas pessoas boas na arte perdemos nesse período. E o que a gente leva é a esperança que temos e apostamos no mundo. Me senti num trabalho de parto, com o menino já pedindo pra nascer, e permiti que ele viesse”, compara.

Alguns textos são inéditos, outros já conhecidos por terem sido publicados em redes sociais ou no site da Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do Ceará (Adpec). Cada um nasceu em um tempo diferente da vida e da atuação de Emanuela, hoje atuante em Sobral. Um deles, porém, o do desfecho do livro, a autora diz ser impactante por tratar-se de uma carta de uma assistida com um forte pedido de ajuda.

Em menos de cinco dias de lançado, o livro já teve um terço da primeira tiragem vendida. Leitores da Região Norte, de Fortaleza e de outras localidades do Ceará, e até de São Paulo, já estão passeando pelas memórias da defensora. Em breve, a obra será disponibilizada também em e-book.

“A Emanuela do começo da carreira tinha traçado um retrato de que o mundo era predominantemente bom e generoso. Mas quando passamos a lidar com conflitos diariamente percebemos que inclusive no seio das famílias existe um potencial lesivo aos relacionamentos e emoções. Portanto, há muito trabalho a fazer até que o mundo seja de fato fraterno e cooperativo. Assim, desconstruída essa percepção idealizada, a Emanuela de hoje sente que cada um pode se apropriar da sua missão para fazer do pedaço de mundo em que for chamado a atuar um lugar melhor para todos. Hoje, em vez de me frustrar com o que as pessoas não têm, eu tento me conectar com os progressos que já fizemos e com o que eu posso oferecer. Por isso uso tanto a metáfora da semente e da plantação. A cada dia, eu me sinto menos capaz de julgar as pessoas por suas escolhas, pois não conheço seus berços e suas escolas, mas podemos acolher o presente com mansidão, ética e justiça. E é desse presente, com esperança e poesia, que trata essa obra”, finaliza.

SERVIÇO
LIVRO “LAÇOS E NÓS: CRÔNICAS DE UMA DEFENSORA”
VALOR: R$ 40 + frete (entrega para todo o Brasil).
COMO COMPRAR: direto com a autora (88 9.9355.9696)
MAIS INFORMAÇÕES: https://editorasertaocult.com/lacos-e-nos-cronicas-de-uma-defensora/

AS 21 CRÔNICAS
Tempo: compositor de destinos
Em nome do (meu) pai
Até que a vida os separe
É o que tenho pra hoje
Eu fico com a pureza da resposta das crianças
Estar-se presa por vontade
O dia em que Alice me parou
O ninho enjeitado
Quando tudo for pedra, atire a primeira rosa
Senhor juiz, pare, agora!
Nicole: um nome, duas faces
Uni, duni, tê…O escolhido foi você!
Chamada para o céu
Luto, logo existo!
No fim, sós
Bola murcha
Descanse em paz!
Filho pródigo
Não é a mamãe!
Não vale uma fisgada dessa dor
Só abra quando for embora!