Primeira Infância entra em pauta no projeto da ESDP de educação em direitos na rede
O encontro virtual #NaPausa trouxe à cena na última terça-feira (2) um debate com a defensora pública e supervisora do Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e da Juventude (Nadij), Julliana Andrade, e com a coordenadora da Secretaria Executiva da Rede da Primeira Infância, Luzia Lafit, o tema “Desafios da Primeira Infância na Pandemia”.
O momento pontuou sobre o quanto a idade de 0 a 6 anos é primordial para o desenvolvimento infantil. Luzia Lafit esclareceu que a fase coloca a criança em situações de convivência e integração. “Nesse período elas elaboraram suas emoções e vão amadurecendo o campo afetivo, lidando com suas conquistas e frustrações, promovendo equilíbrio naquilo que ela quer e consegue e com o que não consegue”.
A defensora Julliana Andrade frisa que toda situação de estresse traz prejuízos ao desenvolvimento das crianças, tal fato também leva em consideração a realidade de cada criança. “Existem situações, ambientes e realidades que possibilitam que seja suprida, mesmo que minimamente, a questão da sociabilidade com a manutenção de uma interação familiar e vínculos saudáveis; isso repercute fortemente em seu desenvolvimento”, afirmou a defensora.
Em complemento, a coordenadora Luzia Lafit fala como a questão das áreas em cada uma dessas crianças se encontram diferem nos impactos que sentem. “Uma criança da zona rural, que não tem acesso a nada, seja atendimento no posto de saúde, consultas de rotina, que vive com limitações ainda maiores em suas atividades, sem possibilidades de interação social e com falta de acesso às informações ou quando as recebe, falta-lhe a compreensão, ela irá sofrer os danos de um modo bem mais intenso. Se passarmos para uma criança indígena aldeada ou uma criança da zona urbana em um contexto de vulnerabilidade potencializada, vamos encontrar em cada realidade um impacto diferente e assim por diante”.
Ainda, segundo Luzia, é preciso um recorte bastante aprofundado e uma sensibilidade no modo de olhar para avaliar tudo isso. “A partir do cenário onde cada uma está inserida, tem que ser considerado desde o desenvolvimento emocional quanto a socialização com outras crianças e agentes do desenvolvimento, além da relação com os diversos valores culturais, pois estão todos cortados atualmente”, considerou Luzia.
Sem o apoio dos fatores protetores externos – a rede escolar, um vizinho amigável, uma outra criança – a identificação dos problemas é dificultada, como por exemplo a violência doméstica, que teve seus números aumentados, durante o período de isolamento, afirma Julliana Andrade. “Vivemos um período onde as famílias estão em casa integralmente e tendo que lidar com perdas de emprego, renda reduzida, adaptação ao home office, estudos em casa. Infelizmente a dificuldade em lidar com as restrições e impactos vem desencadeando dentro desses lares a realidade da violência familiar”.
“De todos, a violência doméstica é o maior risco. Infelizmente as pessoas tendem a compreender que existe uma situação de violência apenas quando os sinais já estão no auge da negligência e isso é um prejuízo muito grande. As crianças mais presentes em casa e com os pais mais vulneráveis, unindo a sobrecarga da família, em relação a tentar resolver os problemas. São situações de muita angústia que favorecem acontecimentos desfavoráveis”, mencionou Luzia.
“A família tem um conceito muito limitado – só é violência quando a criança está muito machucada, quando apanhou tanto que teve que ir para o hospital, quando ficou com alguma cicatriz no rosto. O castigo, colocar de joelho, atitude de gritar e xingar e até mesmo compará-la, ignorando que o desenvolvimento é individual, estão na realidade das famílias”, contextualizou a defensora pública. Em concordância, a coordenadora destaca que “é preciso um trabalho de conscientização mais profundo e de atenção de parentalidade. Conversar com os pais, ajudando a lidar com as dificuldades e frustrações do dia a dia”, argumentou.
“A Primeira Infância é prioridade absoluta. Eu não me canso de repetir isso”. O realce dado pela defensora assinala sobre a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas eficientes. “O poder público precisa olhar para essa situação com o devido cuidado. Recentemente estivemos atuando junto aos candidatos à Prefeitura de 28 municípios, com a elaboração de um Termo com 30 compromissos em alusão aos 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A assinatura do Termo representa o compromisso com essa temática em geral, onde está abordado também a questão da Primeira Infância”, compartilhou.
Finalizando, Luiza Lafit marca o desejo de que logo que as coisas se acalmem mais, seja pensada uma ação conjunta, acionando os municípios e seus técnicos para “pensarmos, planejarmos a execução de políticas públicas; e para isso contar com a colaboração da Defensoria é essencial”, disse.


