Defensoria reúne-se com padres e reafirma a atuação da instituição na proteção dos direitos humanos dos religiosos
A Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE) recebeu nesta quarta-feira (21/7) os padres Lino Allegri e Oliveira Braga Rodrigues, na sede da instituição com intuito de dialogar sobre os recentes episódios de intolerância político e ideológica que tem ocorrido na Paróquia da Paz, em Fortaleza. Os religiosos foram recebidos pela defensora geral Elizabeth Chagas, pela subdefensora geral Sâmia Farias e pela supervisora do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC), defensora Mariana Lobo. Também estiveram presentes membros da igreja e movimentos sociais que atuam junto à Igreja.
Os ataques iniciaram no dia 4 de julho, durante celebração de missa na Paróquia da Paz, em Fortaleza, e têm se intensificado com o uso das redes sociais, com ameaças que chegam, inclusive, de outros estados. As falas tacham os padres de “comunistas safados”, dentre outros adjetivos, acusam-nos de transformarem o altar da igreja em “palanque político” e fazem ameaças abertas à integridade física dos sacerdotes, com frases do tipo “pede ajuda ao Camilo [em referência ao governador Camilo Santana]” e “agora tu vai ver.”

Durante o diálogo, uma série de atuações foram traçadas. As informações vão pavimentar a atuação da DPCE, que acompanha o caso desde a semana passada, quando de uma primeira reunião aconteceu no dia 15 de julho. “Eu, pessoalmente, falei com o secretário de segurança pública e comandante da polícia que foram sensíveis ao pleito e tem colaborado para que a situação cesse!”. Ela explica que a Defensoria está habilitada nos autos no inquérito, que tramita no 2o DP, e que também acompanha o ingresso dos padres no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH), mantido pela Secretaria de Proteção Social (SPS), do Governo do Ceará.
“Nós chegamos num ponto em que palavras como justiça, desigualdade, pobreza, racismo e homofobia não podem sequer ser pronunciadas durante a missa”, declarou Lino. Para a defensora geral, a mordaça à Palavra pregada nas igrejas vai de encontro a toda a evolução social e aos direitos já conquistados, como o direito à livre expressão e a culto e ao credo. “Confesso que nem imaginávamos que este nível de intolerância fosse chegar dentro da igreja, quando se tenta colocar uma mordaça nas palavras e mensagens dos líderes religiosos. Se o padre não pode espalhar a palavra de Cristo, ele vai fazer o quê? Estamos vivendo uma época de involução. Você não pode entrar numa igreja e xingar as pessoas, estimular a violência, organizar atos de intolerância. Isso reverbera de forma perigosa e precisa ser combatido”, afirmou a defensora geral.
Um inquérito policial já está em andamento para investigar o possível cometimento de crime de injúria racial contra uma ministra de eucaristia da paróquia e também de ameaças aos sacerdotes e está sendo acompanhada pela Defensoria. “A Defensoria acompanhou os depoimentos, está se habilitando no inquérito e devemos expor detalhadamente o passo a passo desse processo aos padres e demais vítimas, com a inclusão de novas provas. Mas é evidente que hoje nós vivemos uma censura sem tamanho e é importante acionar toda a rede de proteção de direitos humanos”, sublinhou Mariana Lobo. Ela enalteceu a importância de uma atuação célere para evitar que as ameaças cheguem em outras igrejas. As defensoras devem se reunir nos próximos dias com a Arquidiocese.

“Nós defendemos uma causa por convicção e com base na Palavra. O problema é a intolerância e a incitação à violência. Mas vejo toda essa preocupação conosco e tanta gente lutando em favor da vida e da Justiça como um sinal de Deus”, explicitou padre Oliveira, destacando que se sentiu “ em casa” ao ser tão bem recebido na instituição.
Elizabeth Chagas enalteceu o papel da DPCE como mediadora de processos de paz e promoção da Justiça. “Se a gente não colocar a paz ao lado do respeito, não vamos conseguir fazer a sociedade avançar. Saibam que tem todo o apoio da Defensoria”, afirmou a defensora geral.
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