
“Amar Defensoria” realiza 41 atendimentos em manhã de quarta (29) na praia de Flecheiras
Dez defensores públicos revezaram-se entre os atendimentos dos moradores do Trairi na manhã chuvosa desta quarta-feira (29). Entre eles, os quatro novos defensores que tomaram posse no dia 17 de maio e foram para o primeiro atendimento itinerante da instituição. Ao todo, 41 pessoas passaram pela triagem e tiveram suas questões resolvidas ou encaminhadas na praça principal das Flecheiras, onde o caminhão da Defensoria estacionou por dois dias.
Entre a triagem e o atendimento, dois dias passaram até a solução definitiva de uma querela de dois anos. Ana e Aucir Alves estavam separados de fato, mas não de direito e fizeram o divórcio na hora. Ele, auxiliar de marcenaria, foi indicado pela irmã a resolver a questão com a estadia da Defensoria na praia. “Fui no cartório pra ver como fazia, mas era caro demais e eu não tinha condições. Agora deu certo”. Saiu com o divórcio protocolado na Justiça pela defensora Aline Pinho. Não foram os únicos. Outros dois casais se divorciaram consensualmente durante a manhã de atendimentos. Aliviados, França e Francisco estabeleceram pensão e guarda dos três filhos e saíram satisfeitos com a rápida solução: “para uma nova vida”, disseram na despedida.
O projeto “Amar Defensoria – um mar de direitos” no Trairi atendeu a população gratuitamente nesta terça e quarta-feira (dias 28 e 29 de maio), na praça principal de Flecheiras. É um projeto de atenção voltada aos ‘povos do mar’, população que vive no litoral cearense e engloba os povos tradicionais como pescadores, marisqueiras, rendeiras, indígenas, quilombolas, mestres da cultura e do saber. Além dos defensores, equipe de psicossocial, ouvidoria externa, equipe técnica de triagem e manutenção reúnem-se para prestar este atendimento itinerante dentro do caminhão do programa Defensoria em Movimento.
Entre os atendidos estava o pescador Francisco Eridan Santos, 62 anos. Ele conta que é da família Vicente, moradora das Flecheiras “desde sempre”, filho de pescador e que desde os nove anos está no ofício do mar. Com a morte do genro, ficou como avalista arrolado no pagamento de um empréstimo do rapaz. Lembra que a única coisa que herdou do genro, além da dívida, foi a criação dos dois netos. Com seis filhos e três netos não tem condições de arcar com mais essa despesa, porque, além do aposento, ainda realiza a pesca no mar de robalo para completar a renda familiar. “Nunca tive condições de ir para a escola, mas eu sempre disse que quando eu tivesse minhas filhas e filhos, eles iam ter estudo. Quando fui fazer este empréstimo fui no mesmo dia com meu genro, eles só trocaram o nome e a gente assinou. Mas ele morreu e eu não tenho estudo. Só agora que fui comprar um colchão é que me disseram que meu nome tava sujo”, disse. Foi atendido pela defensora Ceane Cardoso, que oficiou as instituições bancárias para esclarecimentos.
Além do pescador, questões de posse de terra e de venda/compra de imóveis, tão afeitos a especulação imobiliária no litoral, também apareceram entre os 41 pedidos de atendimento. Liderou as ações de pensão e execução de alimentos. “É sempre uma alegria estar atendendo a população de forma mais próxima de suas residências e entendendo a peculiaridade de cada localidade”, disse a defensora Aline Pinho, assessora de relacionamento com o cidadão. Além dela, participaram da ação os defensores Guilherme Queiroz, Ana Raisa Cambraia, Camila Vieira, Rodrigo Augusto, Luis Carlos Garcia Junior, Gabriel Meissner, Ceane Cardoso, Jackeline Martins e Clara Lassere, além da ouvidora Joyce Ramos e da chefe do setor de psicossocial, Andreya Arruda.