“É preciso pensar de forma preventiva”, alerta psiquiatra sobre suicídio
“Por que não se fala de suicídio no Brasil?”. A provocação de Úrsula Malveira Goes, psicóloga da Defensoria Pública do Ceará, abriu o #NaPausa de terça-feira, 26, conversa ao vivo transmitida no Instagram da Defensoria Pública. A provocação foi o ponto de partida para diálogo sobre um assunto que é tabu entre famílias e rodas sociais, mas que vitima 12 mil pessoas por ano no Brasil, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), citados por Úrsula.
No mês permeado pela campanha Janeiro Branco, em que discussões sobre a saúde mental são protagonistas, a Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP) tem promovido encontros virtuais sobre o assunto. “Saúde mental e equilíbrio emocional”, “Saúde mental, trabalho e pandemia” e “A importância do sentido da vida” são os temas que costuraram as semanas do Janeiro Branco da Defensoria Pública, em ciclo que se encerrou ontem. As discussões, tão urgentes, seguem parte da agenda da DPCE ao longo de 2021.
A importância do acolhimento por profissionais é essencial no processo de tratamento, comenta o psiquiatra Fabio Gomes de Matos e Souza, convidado do #NaPausa . “É importante a pessoa ser acolhida. É fundamental sermos ‘cavaleiros de esperança’, ajudar a entender que a vida é renovável. E a pessoa não é suicida, ela está, é um momento de crise. Ultrapassar esse momento de crise é fundamental”, narra. “É preciso pensar de forma preventiva. Por que a aids foi controlada? Por uma palavra chamada ‘prevenção’”.
Depressão, transtorno bipolar, abuso de álcool e entorpecentes, transtorno de personalidade borderline, esquizofrenia. Estes fatores, comenta Fabio, são preponderantes nos casos de suicídio. “Juntando esses cinco, segundo a OMS, estão 97% dos suicídios: um destes cinco ou a combinação destes transtornos”, explica. O médico, com mais de 20 anos de atuação na área, comenta o cenário no Brasil é subdimensionado, em decorrência de subnotificações. “Há muito estigma e preconceito entre as famílias”, observa, explicando que muitos parentes demoram em compreender ou assumir que um ente querido morreu em decorrência de transtornos mentais.
“Você não é suicida, você está suicida. São determinados momentos”, reforça o psiquiatra. E como identificar esses momentos? O médico explica que, em contato com pessoas que chegam aos consultórios, os profissionais (como psiquiatras e psicólogos) podem fazer um acolhimento do paciente e observar fatores por meio das respostas às perguntas: você tem planos para o futuro? Qual o valor que você dá a sua vida? Se a morte viesse hoje, como ela seria recebida? Você tem pensado em fazer algo contra a sua vida? Você já fez algum plano específico para atentar contra a vida? Você tentou recentemente?
“As pessoas dizem, de diversas formas, que querem se matar, nem sempre com essas palavras. Elas podem dizer: eu quero dormir até que meus problemas se acabem, minha vida não tem mais sentido, não tenho mais nada por que viver. Essas frases não podem ser ouvidas e ignoradas”, faz o alerta, compartilhando a importância de parentes, amigos e profissionais da área de saúde estarem atentos a estes sinais. “Muitos pensam: se eu falar de suicídio, eu vou estar induzindo ao suicídio. Não é verdade”. Falar sobre o assunto e acolher são gestos necessários e que podem ajudar no processo de tratamento e cura dos pacientes.
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