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“Lutar contra o racismo é um compromisso com a vida”, diz Haroldo Guimarães na 95ª edição do #NaPausa

“Lutar contra o racismo é um compromisso com a vida”, diz Haroldo Guimarães na 95ª edição do #NaPausa

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Desde os primórdios, com a escravidão, o discriminação racial marca a construção social brasileira. E a pergunta que segue e foi tema da 95ª edição do #NaPausa é: “Racismo, o problema é de quem?”. Em um momento de muito conhecimento e troca de vivências, o evento virtual, que aconteceu nesta quinta-feira (17/6) no perfil da Defensoria Pública no Instagram, contou com a presença do defensor público Victor Montenegro e do professor, ator e humorista Haroldo Guimarães.

O artista é conhecido como Haroldo Preto e militante do Movimento Negro. Revelou que se reconheceu preto por acaso, em situações rotineiras e entendeu a importância de perpetuar o debate sobre relações raciais. “Meus pais diziam que eu não era preto e sim que eu era moreno. Penso que diziam isso por amor, até por não saberem como lidar com essa realidade na educação de um filho naquele tempo. Infelizmente, o que a gente é depende muito do que as pessoas enxergam na gente. Eu descobri que era preto quando fui impedido pela síndica de entrar no elevador social e quando tive que namorar escondido”, destaca.

Já Victor Montenegro destacou as teorias do professor Sílvio Almeida, um dos principais nomes do debate público atual sobre racismo. Para o pesquisador, a questão é estrutural. “O racismo está enraizado e manifestado naturalmente na sociedade, como um fator de organização social e econômica. Então, diante desta perspectiva, como superar esse racismo que praticamente alicerça a base da nossa sociedade? É preciso ecoar essa luta!”, alertou o defensor.

Em consonância, Haroldo Guimarães lembrou que para enfrentar algo é preciso reconhecer que ele existe. “Ainda precisamos seguir no trabalho de conscientização das pessoas acerca da realidade do racismo e que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não se trata de mimimi e sim de uma realidade, um problema latente em nossa sociedade que precisa ser sanado.”

Para os debatedores, o processo de desconstrução do racismo, preconceito e discriminação tem como ponto de partida a educação da população. “É algo que tem que continuar a ser feito. Falar sobre, auxiliar na educação e entendimento, alertar, para que, a médio e longo prazo, possamos ir desconstruindo as fortalezas do racismo”, pontuou Haroldo.

E você, se acha racista? “A maioria diz que não, mas na coletividade há racismo no Brasil, sim. Temos que perceber que somos parte disso e que é um problema que fomenta a exclusão social. Os efeitos do racismo no Brasil não foram reparados logo após o fim da escravidão e são sentidos pela população negra e indígena até hoje”, contextualizou Victor Montenegro.

Segundo Haroldo, o racismo reflete em diversas áreas. “Não é só em ações individualizadas que nos deparamos com o racismo. Também é demonstrado, por exemplo, no acesso à justiça e na efetivação de direitos, vagas de empregos, veículos de imprensa e espetáculos artísticos”, mencionou. “Eu sempre tive o melhor currículo e nunca era admitido. Quando consegui advogar, foi em uma multinacional que não se preocupava com a cor.  A história humana traz injustiças, como crer que por conta da cor a pessoa é ladrão de bicicleta. Ideologicamente o negro é o inferior”,  enfatizou o ator.

O debate enalteceu o quanto o racismo demarca que uma parte da população sofre com a exploração do trabalho, segregação financeira e de moradia, além da perseguição cultural sob a justificativa da raça. A polêmica em torno do “racismo reverso”, amplamente citado em redes sociais, também marcou o #NaPausa.

Para Victor Montenegro, o racismo reverso se caracteriza como uma tentativa de luta por direitos que acaba gerando uma “contra luta” contra o racismo. “O argumento do racismo reverso é em parte uma desinformação intelectual e política”, afirmou, complementado por Haroldo que ressaltou a necessidade de não calar, mesmo quando isso for cansativo. “A ignorância em nosso país é imensa! Às vezes, eu quero falar de pizza e de futebol, porque tô cansado, mas sei o quanto temos que nos posicionar e militar. Afinal, existe uma situação que precisa ser mudada e que depende da nossa atitude”, considerou.

O humorista recordou de diversas situações nas quais foi agredido física e verbalmente por ser negro, mas que nunca conseguiu se acostumar. “Eu estudei muito para isso. Sei que ainda falta muito, mas eu acredito que as coisas aqui podem melhorar. Atualmente considero que todas as instituições estão mais arejadas, querendo colocar o tema em destaque. Essa dívida é de todos nós e lutar contra é um compromisso com a vida”, declarou.

Os debatedores reforçaram ainda como o racismo determina que por conta da cor da pele você vale menos e que ser classe média alta ou ter cargos de poder é quase sempre visto como algo incomum, causando estranheza. Eles avaliaram que cada vez mais pessoas negras  devem estar em posições de poder e, assim, a sociedade passe a enxergar a negritude como possível e não mais como uma supresa. “Políticas de cota e responsabilidade coletiva são o reconhecimento de que a escravidão foi uma engenharia racista e que reverter suas consequências é uma responsabilidade de toda sociedade”, comentou o defensor público.

Victor Montenegro e Haroldo Guimarães também destacaram ser fundamental superarmos o racismo e lembraram do que determina a Constituição, de que todos devemos ser tratados com igualdade de direitos e oportunidades. “Temos que ter cada vez mais espaços para debater, para divergir, compartilhar! Esse momento é muito importante”, elencou Haroldo.