
“Não há motivo para ter medo da vacina, especialmente em idosos”, garante médico geriatra no #NaPausa
Com o início da campanha de vacinação contra o novo coronavírus (Covid-19), muitas dúvidas surgiram sobre a eficácia dos imunizantes e quais públicos devem ser priorizados. Sem doses para uma imunização em massa, o Brasil dividiu os trabalhos em fases e definiu como público para as primeiras aplicações profissionais da saúde cuja atuação se dá na linha de frente do combate à pandemia e idosos, em especial os que moram em Instituições de Longa Permanência – popularmente conhecidas como asilos – e quem tem acima de 75 anos.
Por isso, os cuidados necessários à população idosa em tempos de Covid-19 pautaram o #NaPausa dessa quinta-feira (28/1). O programa de debates e conversas ao vivo promovido pela Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP) discutiu o assunto com o médico geriatra e paliativista Cláudio Pinheiro. A condução foi feita pela coordenadora do serviço psicossocial da Defensoria Pública do Estado (DPCE), psicóloga Andreya Arruda.
“A vacina não vai ser um milagre. É preciso continuar tendo cuidado com os idosos, tanto para eles não serem infectados pela Covid como para eles não serem acometidos por outras doenças. Dentro do que a realidade atual permite, a gente tem que promover a autonomia e a inserção social deles. Muitos ficaram sem contato com a família. Isso pode ter gerado muita tristeza e melancolia. Por outro lado, vimos muitos episódios de violências intrafamiliares. Violências medicamentosas, inclusive. Temos que pensar a velhice sem estigmas. Ela precisa ser encarada como uma etapa a mais da vida. E, muitas vezes, isso vai precisar mesmo de mais envolvimento da família”, alertou a especialista.
Cláudio Pinheiro ponderou que, apesar de ser uma só categoria etária (indivíduos acima dos 60 anos), os idosos são um grupo nada homogêneo. Ou seja: cada um tem necessidades específicas, como ocorre em qualquer outra faixa de idade. Há quem seja completamente autônomo e há quem seja completamente dependente por questões de saúde, por exemplo.
“A pandemia teve impactos muito amplos. Econômicos, emocionais, de mobilidade etc. Embora todos tenham sido submetidos ao isolamento, os idosos talvez pagaram um preço maior por ele. Porque não foi só ficar dentro de casa. Foi, principalmente, se afastar da família e perder uma rotina. Isso foi muito severo e se agravou com o medo e a incerteza de contrair a doença. Quando os consultórios reabriram, foi nítido que boa parte das queixas tinham fundo emocional”, revelou o médico.
Conforme o geriatra, eram comuns relatos de alteração de comportamento, ansiedade, distúrbios do sono, agitação e incidência de depressão, com aumento, inclusive, de episódios medicamentosos que tiveram reflexo também em problemas de coordenação motora e quedas em ambientes domésticos. Estudos indicam as fraturas decorrentes de quedas como a principal causa externa de morte de idosos.
Por isso, o paliativista defendeu a atenção das famílias com os idosos e a compreensão de que a vacinação contra a Covid-19 para esse grupo é primordial. “Não há motivo para ter medo da vacina, especialmente em idosos. As vacinas são seguras. É preciso entender que o objetivo da vacinação agora é proteger os mais frágeis. Vacinas não são alienígenas. Todas seguem princípios. Idade não é critério para não vacinar. Pelo contrário.”
Conforme Pinheiro, o que precisa ser considerado neste momento para decidir se vacina ou não é se o indivíduo, independente da idade, tem histórico de reações alérgicas a vacinas de um modo geral. Quase todas, por exemplo, têm a proteína do ovo na composição. Por isso, cada caso deve ser avaliado em particular.
“Nenhuma vacina tem eficácia de 100%. Uma com mais de 90% já é considerada excelente. Mas o que tem que ter é, no mínimo, 50%. E as duas que estão sendo utilizadas aqui têm 58% e 78%. Isso é uma vantagem enorme, porque evita um volume grande de infecções. As pessoas vacinadas que mesmo assim contraírem a doença, ou seja, estiverem fora desses 58% e 78%, não vão desenvolver formas graves da Covid. Isso é importante porque a pessoa não vai precisar, por exemplo, ir a hospital. Isso volta a dar estabilidade ao sistema de saúde. Fazendo isso, você reduz a pressão no sistema de saúde”, disse o médico.
Ele enalteceu a necessidade de as duas doses serem tomadas para o esquema vacinal ter o efeito planejado. “Vacinação é um projeto de saúde pública. De epidemiologia. Se não fizer da forma correta, não funciona. E isso não depende de vontade de governante A, B ou C. A vacina vai ser feita nas duas etapas porque assim é necessário. A segunda dose é necessária. Quem recebe só uma dose não está imune. Mas vacina também não é tratamento. É prevenção. É para impedir a circulação do vírus. Porque somente sem o vírus estar circulando é que a doença vai ser controlada. Repito: não há por que não vacinar nossos idosos.”
O geriatra criticou a articulação de alguns setores para a vacina ser vendida em clínicas particulares para pessoas fora dos grupos indicados como prioritários. Segundo o especialista, isso pode representar um enorme risco ao programa nacional de imunização. “Se pessoas fora dos grupos prioritários se vacinam agora, pessoas que fazem parte desses grupos vão ficar sem vacina. Porque não há doses para todo mundo. Isso pode fazer o vírus circular, sofrer mutações e voltar pra essas mesmas pessoas vacinadas. Imunizar não significa simplesmente distribuir vacina de qualquer maneira. Pra interromper o ciclo de circulação da doença, tem que ter planejamento. E isso se faz por técnicos. Querer comprar é um pensamento egoísta e que não contribui pra interrupção do fluxo da doença”, concluiu Cláudio Pinheiro.